Akira Kurosawa (Parte 04): Sonhos e Pobreza. Análise dos filmes "Um Domingo Maravilhoso" (1946) e "Dodes'ka-den" (1971)
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A pobreza e a falência econômica são comuns na filmografia do Akira Kurosawa.
Em "Um Anjo Embriagado" (1946) Kurosawa já delineava no pano de fundo um país decadente, focalizando a atividade crescente de grupos criminosos como a Yakuza. Em "Homem Mau Dorme Bem" (1960) temos o Japão como palco de empresas corruptas ligadas ao governo. Em "Ceu e Inferno" (1963) vemos como a estratificação social no Japão reflete na relação entre vizinhos.
Até mesmo em filmes como "Yojimbo" (1961) e "Sete Samurais" (1954) o recorte de classe acontece de forma escancarada.
Os filmes que eu comento aqui neste episódio são dois onde o olhar de Kurosawa aos menos favorecidos está mais aguçado.
"Um Domingo Maravilhoso" (1946), um dos melhores e mais subestimados filmes da carreira do diretor, acompanhamos um casal pobre que tem um único objetivo: aproveitar o domingo. As paisagens pelas quais eles passeiam estão marcadas por ruínas incendiadas e cartazes publicitários – uma combinação que reflete metaforicamente muito bem a situação geopolítica que eles estão mergulhados: a vida num Japão destruído e ocupado pelas forças militares americanas.
"Dodes'ka-den" (1971) é uma antologia de vinhetas sobrepostas que exploram a vida de um grupo de moradores que vivem numa favela nos arredores de Tóquio, no meio de um depósito de lixo e entulho.
Em ambos os filmes, o diretor busca focalizar como a pobreza afeta a individualidade dos personagens e como eles fazem para superar através.
O sonho, o devaneio, é uma ferramenta útil para enfrentar a realidade ou um mecanismo para escapar dela?
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