Artwork

Conteúdo fornecido por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, Eleonora de Lucena, and Rodolfo Lucena. Todo o conteúdo do podcast, incluindo episódios, gráficos e descrições de podcast, é carregado e fornecido diretamente por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, Eleonora de Lucena, and Rodolfo Lucena ou por seu parceiro de plataforma de podcast. Se você acredita que alguém está usando seu trabalho protegido por direitos autorais sem sua permissão, siga o processo descrito aqui https://pt.player.fm/legal.
Player FM - Aplicativo de podcast
Fique off-line com o app Player FM !

Bispos brasileiros eram muito divididos ideologicamente em 1964, aponta Frei Betto

1:13:02
 
Compartilhar
 

Manage episode 407006062 series 2926590
Conteúdo fornecido por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, Eleonora de Lucena, and Rodolfo Lucena. Todo o conteúdo do podcast, incluindo episódios, gráficos e descrições de podcast, é carregado e fornecido diretamente por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, Eleonora de Lucena, and Rodolfo Lucena ou por seu parceiro de plataforma de podcast. Se você acredita que alguém está usando seu trabalho protegido por direitos autorais sem sua permissão, siga o processo descrito aqui https://pt.player.fm/legal.

“Eu participei da reunião da CNBB, em abril de 1964, onde se debateu se a CNBB deveria ou não apoiar o golpe militar. A maioria votou pelo apoio ao golpe. Acontece que as bases da igreja eram muito progressistas, principalmente o pessoal da ação católica. Havia bispos de extrema direita, como dom Vicente Scherer, no Rio Grande do Sul, e bispos de esquerda, como dom Helder Câmara, em Pernambuco. Havia uma tensão muito grande. Os bispos brasileiros eram muito divididos ideologicamente”. Palavras de Frei Betto ao TUTAMÉIA. Frade dominicano, jornalista e escritor, Carlos Alberto Libânio Christo, 79, fala de sua trajetória como liderança estudantil, de sua militância na igreja católica no enfrentamento à ditadura, de suas prisões e da conjuntura atual. “Bolsonaro foi eleito em 2018 porque nós, da esquerda, nós progressistas abandonamos o trabalho popular. Ou todos nós trabalhamos para semear um futuro melhor para as futuras gerações ou esse país corre o sério risco de voltar a viver sob uma ditadura, sob o tacão setores militares extremamente descomprometidos com a democracia”, afirma em conversa gravada em 13 de fevereiro de 2024. Em primeiro de abril de 1964, Betto estava no congresso latino-americano de estudantes em Belém, no Pará. “Eu era dirigente nacional da JEC, Juventude Estudantil Católica, hospedado na casa do arcebispo dom Alberto Ramos. Quando houve o golpe, o congresso foi literalmente desbaratado, cada um se mandou para onde podia. Saí da casa do arcebispo, porque ele começou a delatar padres como subversivos”, diz. Betto relembra: “Eu tinha ido para Belém com uma passagem concedida pelo Betinho. Nós éramos muito amigos, e ele era chefe de gabinete do ministro Paulo de Tarso dos Santos, da educação. Fui à agência da Varig para tentar retornar ao Rio, onde eu morava. A agência estava absolutamente lotada e um dos atendentes me disse: ‘Sua passagem não pode ser mais usada porque ela foi concedida pelo poder executivo anterior’. Ele carimbou a palavra “cancelado” na capa da passagem. Eu, um pouco desesperado, foi uma intuição, não raciocinei muito: rasguei a capa e estendi mão para outra atendente --e ela marcou a passagem com conexão no Recife. Uma enorme coincidência: era a posse de dom Helder Câmara como arcebispo do Recife”. Ele continua: “A JUC, Juventude Universitária Católica, tinha criado um braço político independente da igreja chamado Ação Popular. Betinho foi um dos fundadores desse movimento de esquerda que depois adquiriu um caráter marxista e chegou até a ter um segmento maoísta. A ditadura não fazia diferença entre Ação Católica e Ação Popular. Tanto que o apartamento que eu morava no Rio, que abrigava as direções nacionais da JEC e da JUC, foi invadido no dia 6 de junho de 1964 pelo serviço secreto da marinha, o Cenimar”. “Fomos acordados às 4 horas da madrugada com metralhadoras e levados todos presos para a Praça 15, onde ficava o Cenimar. Foi a minha primeira prisão. Fui preso duas vezes durante os 21 anos de ditadura. Fomos interrogados sob tortura. Fui confundido como sendo o Betinho”. “Depois, em 1969, já como frades dominicanos, formos presos Foi a primeira vez na história que frades católicos dominicanos, presos em São Paulo, foram acusados de terroristas”. Segue Betto: “A repressão, no início, ficou muito grata porque os bispos tinham dado apoio ao golpe. Mas logo começaram a desconfiar que a igreja fazia jogo duplo. Na verdade, a igreja era dividida. Havia sacerdotes, leigos, religiosas que eram progressistas, de esquerda. Sobretudo as comunidades eclesiais de base, que estavam se iniciando naquele período”. “A repressão começou a considerar que a igreja católica, na verdade, era uma estrutura de esquerda que alguns na cúpula faziam de conta que apoiavam a ditadura, mas estavam todos contra a ditadura. Até porque comparavam a igreja a uma estrutura de caserna. Achavam que uma instituição religiosa funciona como um quartel. Não é assim. Há muitas contradições dentro das instituições religiosas”. “Naquela época, a igreja católica tinha ampla hegemonia religiosa no Brasil. Era extremamente forte o peso da igreja católica. Incomodava a ditadura o fato de ter bispos, cardeais como dom Aloísio Lorscheider, dom Paulo Evaristo Arns, que eram abertamente críticos à ditadura abertamente”. “Hoje a igreja católica é um corpo conservador com uma cabeça progressista. É um ser esdrúxulo”. O depoimento integra a série O QUE EU VI NO DIA DO GOLPE, em que TUTAMÉIA apresenta depoimentos de figuras como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

  continue reading

823 episódios

Artwork
iconCompartilhar
 
Manage episode 407006062 series 2926590
Conteúdo fornecido por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, Eleonora de Lucena, and Rodolfo Lucena. Todo o conteúdo do podcast, incluindo episódios, gráficos e descrições de podcast, é carregado e fornecido diretamente por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, Eleonora de Lucena, and Rodolfo Lucena ou por seu parceiro de plataforma de podcast. Se você acredita que alguém está usando seu trabalho protegido por direitos autorais sem sua permissão, siga o processo descrito aqui https://pt.player.fm/legal.

“Eu participei da reunião da CNBB, em abril de 1964, onde se debateu se a CNBB deveria ou não apoiar o golpe militar. A maioria votou pelo apoio ao golpe. Acontece que as bases da igreja eram muito progressistas, principalmente o pessoal da ação católica. Havia bispos de extrema direita, como dom Vicente Scherer, no Rio Grande do Sul, e bispos de esquerda, como dom Helder Câmara, em Pernambuco. Havia uma tensão muito grande. Os bispos brasileiros eram muito divididos ideologicamente”. Palavras de Frei Betto ao TUTAMÉIA. Frade dominicano, jornalista e escritor, Carlos Alberto Libânio Christo, 79, fala de sua trajetória como liderança estudantil, de sua militância na igreja católica no enfrentamento à ditadura, de suas prisões e da conjuntura atual. “Bolsonaro foi eleito em 2018 porque nós, da esquerda, nós progressistas abandonamos o trabalho popular. Ou todos nós trabalhamos para semear um futuro melhor para as futuras gerações ou esse país corre o sério risco de voltar a viver sob uma ditadura, sob o tacão setores militares extremamente descomprometidos com a democracia”, afirma em conversa gravada em 13 de fevereiro de 2024. Em primeiro de abril de 1964, Betto estava no congresso latino-americano de estudantes em Belém, no Pará. “Eu era dirigente nacional da JEC, Juventude Estudantil Católica, hospedado na casa do arcebispo dom Alberto Ramos. Quando houve o golpe, o congresso foi literalmente desbaratado, cada um se mandou para onde podia. Saí da casa do arcebispo, porque ele começou a delatar padres como subversivos”, diz. Betto relembra: “Eu tinha ido para Belém com uma passagem concedida pelo Betinho. Nós éramos muito amigos, e ele era chefe de gabinete do ministro Paulo de Tarso dos Santos, da educação. Fui à agência da Varig para tentar retornar ao Rio, onde eu morava. A agência estava absolutamente lotada e um dos atendentes me disse: ‘Sua passagem não pode ser mais usada porque ela foi concedida pelo poder executivo anterior’. Ele carimbou a palavra “cancelado” na capa da passagem. Eu, um pouco desesperado, foi uma intuição, não raciocinei muito: rasguei a capa e estendi mão para outra atendente --e ela marcou a passagem com conexão no Recife. Uma enorme coincidência: era a posse de dom Helder Câmara como arcebispo do Recife”. Ele continua: “A JUC, Juventude Universitária Católica, tinha criado um braço político independente da igreja chamado Ação Popular. Betinho foi um dos fundadores desse movimento de esquerda que depois adquiriu um caráter marxista e chegou até a ter um segmento maoísta. A ditadura não fazia diferença entre Ação Católica e Ação Popular. Tanto que o apartamento que eu morava no Rio, que abrigava as direções nacionais da JEC e da JUC, foi invadido no dia 6 de junho de 1964 pelo serviço secreto da marinha, o Cenimar”. “Fomos acordados às 4 horas da madrugada com metralhadoras e levados todos presos para a Praça 15, onde ficava o Cenimar. Foi a minha primeira prisão. Fui preso duas vezes durante os 21 anos de ditadura. Fomos interrogados sob tortura. Fui confundido como sendo o Betinho”. “Depois, em 1969, já como frades dominicanos, formos presos Foi a primeira vez na história que frades católicos dominicanos, presos em São Paulo, foram acusados de terroristas”. Segue Betto: “A repressão, no início, ficou muito grata porque os bispos tinham dado apoio ao golpe. Mas logo começaram a desconfiar que a igreja fazia jogo duplo. Na verdade, a igreja era dividida. Havia sacerdotes, leigos, religiosas que eram progressistas, de esquerda. Sobretudo as comunidades eclesiais de base, que estavam se iniciando naquele período”. “A repressão começou a considerar que a igreja católica, na verdade, era uma estrutura de esquerda que alguns na cúpula faziam de conta que apoiavam a ditadura, mas estavam todos contra a ditadura. Até porque comparavam a igreja a uma estrutura de caserna. Achavam que uma instituição religiosa funciona como um quartel. Não é assim. Há muitas contradições dentro das instituições religiosas”. “Naquela época, a igreja católica tinha ampla hegemonia religiosa no Brasil. Era extremamente forte o peso da igreja católica. Incomodava a ditadura o fato de ter bispos, cardeais como dom Aloísio Lorscheider, dom Paulo Evaristo Arns, que eram abertamente críticos à ditadura abertamente”. “Hoje a igreja católica é um corpo conservador com uma cabeça progressista. É um ser esdrúxulo”. O depoimento integra a série O QUE EU VI NO DIA DO GOLPE, em que TUTAMÉIA apresenta depoimentos de figuras como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

  continue reading

823 episódios

Alle episoder

×
 
Loading …

Bem vindo ao Player FM!

O Player FM procura na web por podcasts de alta qualidade para você curtir agora mesmo. É o melhor app de podcast e funciona no Android, iPhone e web. Inscreva-se para sincronizar as assinaturas entre os dispositivos.

 

Guia rápido de referências